“Filho, se homens perversos quiserem tentar você, não deixe. Eles poderão dizer: “Venha, vamos matar alguém! Vamos nos divertir atacando pessoas inocentes! Estarão vivas e com saúde quando as encontrarmos, mas nós acabaremos com elas. Acharemos todo tipo de riquezas e encheremos as nossas casas com as coisas roubadas. Venha com a gente, que nós repartiremos o que roubarmos!”
Filho, não ande com gente dessa laia. Fique longe deles. Eles têm pressa de fazer o mal e estão sempre prontos para matar. Não adianta armar uma arapuca enquanto o passarinho estiver olhando. No entanto esses homens estão preparando uma armadilha onde eles mesmos morrerão. O que acontece com quem fica rico por meio da violência é isto: acaba sendo morto.” (Pv. 1: 10-19)
Nos dias atuais, falar sobre ética é quase monótono tendo em vista que há alguns anos esse tema já foi bastante abordado, chegando até mesmo a ser exigido em redações de provas e concursos. Por isso, atualmente a maioria das pessoas possui uma noção do significado da palavra ética.
Mas não se engane, o fato de o conceito de ética ser conhecido não significa que ele verdadeiramente seja vivido, principalmente na vida profissional, em que na imensa maioria das vezes apenas os vencedores são reconhecidos, o que acaba por incentivar o pensamento maquiavélico de que os fins justificam os meios.
Tal como acontece com relação a vários outros conceitos morais, falar de ética é moleza, difícil é vive-la, especialmente quando envolve uma decisão que importará num custo financeiro, profissional ou pessoal.
Na porção de provérbios acima citada, fala-se em roubo e em ofensa ao direito alheio, tudo isso para buscar a riqueza de um jeito mais rápido.
No entanto, o resultado final está expresso: a morte! Pode ser a morte física, a morte de uma carreira profissional ou a morte de um CNPJ.
Se você ainda acredita que é legal e socialmente aceito fazer as coisas do “jeito antigo”, isto é, enganando, trapaceando e usando atalhos, saiba que a sociedade, os clientes e os parceiros profissionais e comerciais hoje em dia estão tão atentos para a ética nas condutas, que ela passou a ser um ativo, representando um importante diferencial competitivo. Entre outras vantagens, uma conduta pautada pela ética implica em previsibilidade e segurança para todos os envolvidos.
Antigamente era fácil ser desonesto e isso ficar oculto, mas com as redes sociais a notícia ruim corre muito ligeira e não adianta dizer que é “fake news”, pois o acesso à informação está muito facilitado.
Analisando sob outra ótica, ainda que ninguém descubra as atitudes consideradas antiéticas que você praticar, lembre-se que além de haver um Ser Supremo com olhos que tudo veem e que consegue sondar até as motivações dos corações, também existe a eterna e imutável lei do retorno que, no tempo certo, age e só pode ser amenizada com o antídoto do arrependimento, por meio da mudança de condutas e da reparação do mal praticado.
Lembro-me de um grande empresário varejista que tinha o hábito de tentar comprar os pequenos comércios nas regiões onde pretendia instalar uma filial. Se não aceitassem vender (por razões genuínas ou não, tanto faz), ele montava uma filial praticamente na frente do empreendimento desse comerciante, ainda que lhe custasse mais caro que em outros locais, então praticava preços de modo a atrair toda a clientela e, fatalmente, isso levava o “vizinho” à falência financeira. Isso foi feito não uma ou duas vezes, mas dezenas.
Passado pouco mais de uma década, uma grande rede de lojas do mesmo segmento ofereceu propostas para comprar todo o negócio desse inescrupuloso empresário. Não sei se foi Deus quem lhe endureceu o coração ou se apenas ganância mesmo, mas ele recusou. Advinha o que aconteceu? Sim, isso mesmo. Agiram exatamente como dezenas de vezes ele agiu. Seu grupo empresarial em alguns anos entrou recuperação judicial e, por fim, em falência.
É triste a história, mas ilustra como a lei do retorno funciona e como, no caso dele, o que recebeu de volta foi o pagamento pelas reiteradas atitudes antiéticas, que caracterizavam seu modo habitual de agir.
Mais ou menos um ou três séculos antes de Cristo, o Rei Salomão escreveu no livro de Eclesiastes que não deveríamos ser nem exageradamente corretos e tampouco demasiadamente perversos. A lição que tiro disso é que ele, nutrido de inspiração divina, sabia que todos nós, em algumas situações podemos praticar o bem e, em outras, agir de modo miserável, fazendo coisas das quais nos envergonhamos.
Nesse sentido, em nossa vida profissional, a conduta ética deve ser aquela que nos orienta sempre, porém não devemos nos desesperar ou muito menos desistir quando em um ou noutro momento erramos e deixamos nos levar por caminhos dos quais não nos orgulhamos. Importante é rapidamente mudar a rota e restabelecer a vereda ética.
Assim, da mesma forma que uma “pisada na bola”, a qual todos estamos suscetíveis de cometer, não indica que alguém é antiético, semelhantemente uma ou outra atitude virtuosa não implica que alguém assim o é.
Não foi sem motivo que Aristóteles, ao escrever a clássica obra “Ética a Nicômaco”, pontuou que a virtude moral, que aqui podemos chamar também de ética, resulta de uma vida habituada em atitudes morais virtuosas. Não é um ou outro ato que faz de alguém um ser ético, mas a constância.