Certa vez, José Saramago escreveu que “aprender com as experiencias dos outros é menos penoso do que aprender com a própria” e eu considero que essa é uma habilidade que demonstra sabedoria de quem a possui. Para consegui-la algumas atitudes são necessárias, primeiramente uma boa dose de humildade. É preciso entender que de todas as pessoas e situações podemos extrair lições, tanto daquilo que podemos tentar fazer igual, como do que devemos evitar em nossas vidas. Além disso, é necessário manter algum grau de introspecção. Não estou dizendo que precisa ser uma pessoa introspectiva, mas que seja atento ao que acontece no entorno de sua vida.
O advogado com o qual fiz estágio do início do terceiro semestre até montar meu escritório de advocacia, Dr. João, foi uma lição interessante. Ele tinha um escritório com cerca de vinte pessoas e eu comecei estagiando meio período, na parte da manhã, porém eu gostava tanto daquele lugar e das oportunidades que me proporcionavam que mesmo fora do horário normal eu fazia questão de ir para lá. Passei muitos sábados inteiros e domingos pela manhã com ele. Ele rascunhava as petições à mão ou na máquina de escrever e eu as digitava no computador. Tinha grande liberdade para melhorar e incrementar as petições. Como ele não era tão bom de gramática, ficava feliz com o que eu fazia. Além disso, recheava as peças de ementas mais atualizadas do que as que ele citava.
Mas entendo que meu grande diferencial naquele estágio foi que enquanto muitas pessoas se limitavam a criticá-lo devido a desorganização financeira e administrativa de seu escritório, o que era real, eu procurei extrair o que ele tinha de bom. Enquanto os outros dois escritórios nos quais eu havia estagiado sofriam com escassez de clientes, apesar de serem bastante organizados, o escritório do Dr. João quase sempre tinha fila de pessoas aguardando para serem atendidas e as pessoas geralmente queriam falar com ele.
O segredo dele era a qualidade no atendimento aos clientes. Logo depois que entrei no escritório, ele deve ter gostado de mim e pedia para eu ficar na sala dele datilografando a parte dos “fatos” das petições enquanto ele atendia os clientes. Pude observar como ele era simpático e atencioso com as pessoas. Dedicava um bom tempo para conversar sobre outros assuntos antes de entrar na necessidade jurídica específica. As pessoas saíam dali se sentindo como se fosse o melhor amigo do Dr. João. E isso não era falso da parte dele. Ele gostava de pessoas ao seu redor. Nunca estava sozinho e eu me aproveitei disso, sempre que podia, fazia questão de acompanhá-lo em associações, clientes ou qualquer outro evento que ele fosse convidado.
Além disso, o Dr. João estava sempre lendo ementários de jurisprudência sobre os mais diversos temas. Ele não era um advogado de uma área apenas. Sobre qualquer assunto jurídico ele tinha um com conhecimento. Dizia para mim que quando o cliente vem para uma consulta você nunca sabe para que lado a conversa vai e algo que começa com um divórcio pode terminar num assunto sobre disputa de terras. Por isso, a importância de ter “cosmovisão jurídica”, ele sempre repetia isso.
Depois de um tempo, ele passou a me chamar até mesmo de filho e me apresentar para algumas pessoas assim, brincando, é claro, mas alguns acreditavam ser verdade. Hoje percebo que de todas as pessoas que por lá passaram, acredito que apenas eu de fato consegui extrair a essência daquilo que ele tinha de maior dom e habilidade: saber realizar um bom atendimento e ter um bom conhecimento jurídico sobre diversos temas.
No livro de Provérbios, há uma passagem que diz: o escravo sábio mandará no filho que envergonhou o pai e também receberá uma parte da herança (Pr. 17:2). Em outro livro já escrevi sobre essa pérola de sabedoria. Considero que o escravo sábio é aquele que de fato aprende o que seu patrão tem de melhor. O melhor que alguém bem-sucedido tem não é e nunca foi o dinheiro ou o patrimônio, mas a mentalidade. A forma de pensar e de agir. De algumas pessoas, o ideal é aprender para fazer o contrário, mas, de outras, aprender para fazer igual e até aprimorar.
Se de fato você quer atingir resultados excepcionais em sua vida profissional, o caminho não é ficar observando e desejando o estilo de vida daqueles que já atingiram o lugar que você um dia quer estar. Talvez alguns deles até já se perderam com distrações que surgem no meio do caminho. Mas precisa tentar entender como pensavam, viviam e agiam antes de romper. Antes de saírem do lugar mediano para a alta performance. Por isso, ler biografia, autobiografia, autoajuda e livros parecidos são de grande importância. Eu não tenho preconceito quanto a isso, porque existe muita coisa boa disponível, com ensinamentos práticos.