Com a experiência de ter estagiado com diferentes perfis de profissionais, analisando os resultados que cada um alcançava, refleti sobre minha própria condição.
Primeiramente, como um bom virginiano, classifiquei meus dois primeiros tutores como “técnicos” e o terceiro como “comercial”. Os técnicos com alta qualidade jurídica, porém padecendo com a falta de clientes. O comercial, com incrível habilidade de relacionamento, mas com qualidade mediana. Avaliei ainda o estilo de vida de cada um. Os técnicos com tendência a ficarem mais isolados, realizando leituras, elaborando petições primorosas. Um silêncio absoluto reinando em seus escritórios. O comercial sempre envolto com gente, barulho, conversas, eventos. Ele também lia, mas focado em ementários de jurisprudência, ou seja, focado no prático. Ele me dizia: “Filho, a petição precisa ter os fatos bem descritos e o básico de fundamentação jurídica. O restante é com o juiz.” Ele ainda gostava de citar o brocárdio jurídico “Da mihi factum, dabo tibi ius” (Dá-me os fatos que lhe darei o Direito).
Então, analisei sobre com qual perfil eu era mais parecido: o técnico ou o comercial? Evidentemente, o técnico. Minha tendência natural é de me isolar, de ficar recluso lendo. Amo elaborar petições, estudar temas complexos, ensinar, escrever. E é legal saber qual seu perfil, pois evita alguns sofrimentos. Alguns anos mais tarde, quando eu era bem ativo na igreja, por algum tempo fui líder de célula, discipulador de membros e responsável pelo ministério de resgate dos membros que estavam afastados. Até fiz tudo isso bem feito, mas nada realmente me atraia. Até que me afastei de tudo isso e me envolvi com o ministério de ensino. Eu preparava as aulas que queriam ministradas nas células, eu lecionava na escola bíblica quando o pastor principal estava ausente. Ministrei alguns seminários específicos. Nisso, meu coração realmente se enchia. Passava facilmente uma noite acordado preparando algum material, mesmo que fosse pedido de última hora.
Acontece que os resultados financeiros dos advogados, pelo menos dos que eu conhecia, que tinham esse perfil, não me atraia. Então, além de ter feito quatro pós-graduações (que na época não era tão acessível quanto hoje), mestrado e iniciado o doutorado (parei durante a pandemia), escrito alguns livros jurídicos – o que faz parte da minha natureza técnica – eu me esforcei em desenvolver as habilidades de relacionamento. Li diversos livros, me coloquei em situações que inicialmente eram desconfortáveis, fiz curso de oratória, de apresentação de alto impacto, de formação de palestrante, de relacionamentos de qualidade, participei de mentorias, hub de negócios, eventos, confrarias entre outros. Tudo para melhorar a capacidade de comunicar o que eu sabia e para conhecer pessoas, criar conexões e aumentar minha rede de contatos.
Hoje eu aprendi a gostar de me socializar, de conhecer gente nova. Chego a dizer que eu preciso estar rodeado de gente para me sentir bem. Mas eu também preciso muito dos meus momentos isolados, lendo e escrevendo para recarregar minhas baterias. Então, não consigo ficar apenas numa ou noutra condição. Por isso, atualmente considero que eu tenho o perfil misto, tanto técnico como comercial.
Outro dia, um conhecido perguntou se eu fosse ele o que eu faria para alavancar a carreira. Ele é uma das pessoas mais hábeis em relacionamento que eu conheço. Naturalmente simpático. Conhece todo mundo. Todos gostam dele. Está sempre em lugares de networking. Então, para mim foi evidente. Sugeri que ele procurasse onde, no mundo tinha os melhores cursos de alta performance técnica na área dele, finanças. Pois o conhecimento que possuía era apenas mediano, porque havia concluído somente a graduação e não era muito adepto de leituras e de estudar. Falei para ele que se além de bom nos relacionamentos ele também se tornasse referência técnica em finanças, seria imbatível. Porém, como eu já imaginava, apenas ouviu o que eu disse e não o fez. Não é fácil para quem tem um talento natural para um aspecto (técnico ou comercial), querer e de fato se empenhar em desenvolver aquilo que falta.
Na advocacia, desenvolver essas duas habilidades é de extrema importância. Se for um exímio conhecedor de alguma área do direito e não souber comunicar o conhecimento que tem, se relacionar com pessoas e vender seu serviço, a maior probabilidade é que acabe por trabalhar para outra pessoa. Então, pelo menos que encontre um sócio que complete nessa carência. Por outro lado, se for um grande “comercial”, mas com baixa qualidade técnica, ficará limitado a causas de baixa complexidade ou sempre dependerá do suporte de alguém mais qualificado. Uma e outra situação não são boas e, regra geral, implicam grandes limitações ao desenvolvimento profissional e ao sucesso financeiro.