José, bisneto do patriarca Abraão, havia sido vendido como escravo por seus irmãos devido a um sentimento de inveja que surgiu, entre outros motivos, porque ingenuamente compartilhou os projetos que Deus havia revelado para sua vida, especialmente, o de ser elevado acima de seus irmãos e até de seu pai, os quais em algum momento futuro iriam se prostrar a ele, prestando reverência.
Infelizmente, os anos de juventude se revelariam bastante duros e certamente o ensinariam a ser mais astuto sem, contudo, perder a sinceridade e a confiança no Criador. Quando já era escravo, foi injustamente acusado de tentativa de estrupo e lançado à prisão. Nesse local, mesmo após ter sido bondoso com dois colegas prisioneiros, acalmando seus corações quando precisaram, acabou sendo esquecido e lá permaneceu.
Desde quando ainda morava com seu pai e sonhara que seria alguém importante, até aquele momento ali na prisão já havia passado cerca de treze anos e, aparentemente, nada indicava que seu futuro seria melhor.
Porém, num dos “de repentes” de Deus, foi colocado à presença do Faraó para interpretar dois sonhos que esse tivera e que o estavam perturbando. Ambos tratavam de uma mesma mensagem, porém contada de duas maneiras diferentes. Apesar da provável ansiedade, José estava tranquilo e confiante porque Deus já lhe mostrara que possuía esse talento especial. Assim, ouviu os sonhos e logo soube o significado. Era um aviso ao Rei do Egito, vindo direto dos céus para algo severo que ocorreria.
É possível especularmos alguns dos pensamentos que rodavam a cabeça de José. O que seria dele em seguida? O que aconteceria após revelar a interpretação dos sonhos? Estava diante de alguém que poderia desfazer a injustiça que estava sofrendo e libertá-lo da prisão, mas qual postura deveria adotar? Qual a estratégia?
O que você faria se fosse José? Tentaria negociar a revelação da interpretação dos sonhos? Pediria liberdade e riquezas em troca? Ora, de graça recebeste, de graça entregaste. Talvez cobrar ou tentar negociar desagradaria a Deus e ainda seria perigoso, pois o Faraó poderia mandar matá-lo logo em seguida ou simplesmente jogá-lo na prisão até o fim de sua vida.
José, nessa ocasião já tinha cerca de trinta anos de idade (bastante adulto para a época) e as dificuldades pelas quais passara provavelmente aumentaram sua maturidade. Vivia no Egito Antigo, uma região que apesar de avançada socialmente, era bastante mística, com muito respeito e crença nos mais variados deuses. Valorizavam os sacerdotes por acreditar que possuíam conexão especial com os deuses.
José sabia que precisava impressionar, pois tinha diante de si a maior autoridade terrena da época e a possibilidade de mudar sua história.
Então, o que fez foi revelar além da interpretação do sonho, que, aliás, era terrível, pois após sete anos de muita riqueza, haveria sete anos de terrível escassez, que faria esquecer até mesmo o período de abundância.
Mas José foi ousado, depois de revelar o grave cenário que toda a terra enfrentaria, inclusive o Egito, então apelou para o senso de urgência do Faraó e imediatamente já apresentou a solução, com um plano razoavelmente detalhado do que deveria ser feito, reforçando com isso sua imagem naquele crucial momento de alguém inspirado pelo espírito de Deus. A decisão do Faraó não poderia ser diferente:
“Uma vez que Deus lhe revelou todas essas coisas, não há ninguém tão criterioso e sábio como você. Você terá o comando de meu palácio, e todo o meu povo se sujeitará às suas ordens. Somente em relação ao trono serei maior que você. (…) Entrego a você o comando de toda a terra do Egito”.
Que mudança de vida! De escravo prisioneiro, acusado injustamente de tentativa de estupro, para governador de todo o Egito.
Algumas lições podemos tirar dessa passagem.
– senso de oportunidade: às vezes estamos diante de uma situação que, sem perceber, pode ser considerada uma negociação, pois dela pode surgir algum acordo ou solução favorável para nós, mas infelizmente deixamos passar despercebida a oportunidade. Devemos saber que nem sempre a mesa à qual estaremos sentados conversando terá uma placa escrita “mesa de negociação”. Pode ser uma conversa informal, numa fila, num café, esperando algum atendimento ou mesmo em um momento constrangedor;
– proatividade: por timidez, cansaço, falta de senso de oportunidade, comodismo ou até mesmo orgulho não podemos deixar escapar uma oportunidade de compartilhar e contribuir com algum talento ou habilidade que temos e que poderia nos colocar numa condição muito melhor;
– acredite: não deixe de acreditar nem desista de esperar, a qualquer momento sua sorte pode mudar, Deus precisa que você esteja pronto, atento e disponível. Continue crendo e confiando. Após tantos anos, José poderia ter duvidado de que ainda tinha conexão com o divino e não ter ido a Faraó. Pode ser hoje o dia que você conversará com alguém, mostrará entusiasmo, talento e esse alguém falará de você para outra pessoa e uma situação potencialmente poderosa poderá surgir. Pode ser daqui um ano ou cinco. Não importa, creia, espere e vá fazendo o seu melhor;
– compartilhe generosamente: não retenha informação, divida e multiplique conhecimento, não tenha medo de que procurem outra pessoa em seu lugar, pois direta ou indiretamente você acaba se beneficiando. No mínimo, você pratica aquilo que sabe, sua fama aumenta e assim se posiciona como referência em determinado assunto. E, advinha? As pessoas gostam de estar com quem é “referência”, e de contratá-lo.
– esteja aberto: José poderia ter recusado a proposta de Faraó, poderia ter se tornado negativo após ter sido vendido por seus irmãos, ter sido acusado injustamente pela esposa de seu chefe, ter sido esquecido pelo colega de cadeia, mas essas experiências ruins não o transformaram em alguém amargo com Deus e com as oportunidades da vida.
Eu sei que se era projeto de Deus elevar José a governador do Egito, isso ocorreria de qualquer maneira, mas também sei que fomos dotados de dons, capacidades e habilidades porque Ele nos quer como coautores de sua obra, por isso, ele nos coloca de frente para o gol, mas precisamos estar atentos, motivados e preparados para fazer o movimento correto. Toda a Escritura foi divinamente inspirada e é útil para nossa instrução, e esse encontro de José com o Faraó mostra isso.