Antes de aceitar uma proposta, cuidado com as armadilhas

Quando o gerente do seu banco pede para você assinar um contrato, não dá um frio na barriga? Tantas páginas, cláusulas, capítulos, palavras estranhas… Havia um apresentador de televisão na cidade onde nasci que dizia: “Não assine nada sem ler!”. Mas, e quando lemos e não entendemos? Pois é, seu receio é justificado, pois os perigos existem e, em algumas ocasiões, podem ser mortais — para sua vida financeira, para seu empreendimento, para sua família. Então, cuidado.

Recebeu uma proposta? Tenha por hábito mapear os riscos — especialmente se a pessoa que a apresentou tem um histórico duvidoso (como é a realidade, por exemplo, de todos os bancos…) e, principalmente, se você não conhece aquilo que estão oferecendo.

Certa vez, na história, essa falta de cuidado custou a vida de todos os homens de uma região. Aconteceu por volta de 1.750 a.C., na região de Siquém — atualmente, Cisjordânia, ao norte de Israel.

Hamor, rei da cidade de Siquém, atendendo ao pedido de seu filho, pediu a Jacó e seus filhos que aceitassem que suas filhas se casassem com eles, e vice-versa, pois seu filho estava apaixonado por Diná, filha de Jacó.

Ofereceram riquezas, propriedades e tudo o que quisessem. Porém, os filhos de Jacó, astuciosamente, disseram que poderiam atender ao pedido de casamentos entre os povos, desde que todos os homens de Siquém fossem circuncidados, como eles próprios, os israelitas, eram.

Sem avaliar com cuidado a proposta, consideraram-na boa, e Hamor e seu filho convenceram o povo de Siquém a aceitá-la. Caíram na armadilha. Como está escrito em Provérbios 22:3: “O prudente percebe o perigo e busca refúgio; o inexperiente segue em frente e sofre as consequências.” Nesse caso, as consequências chegaram em pouco tempo.

No terceiro dia após a circuncisão — quando a dor e a limitação de movimentos estão no auge — Simeão e Levi foram a Siquém e, com suas espadas, mataram todos os homens daquele povo. Depois, saquearam seus bens e levaram suas crianças e mulheres como cativas.

Ora, mas Hamor, seu filho e o povo de Siquém tinham motivos para desconfiar da proposta que receberam? Tinham, e motivos muito fortes. Aliás, mesmo que não os tivessem, deveriam ter sido mais cautelosos — mas, nesse caso, os motivos gritavam.

Em primeiro lugar, só o fato de a proposta ter vindo dos filhos de Jacó — que tinham um histórico de astúcia e trapaça — já seria suficiente. É só lembrar que ele comprou o direito de primogenitura de seu irmão mais velho com um prato de lentilhas e recebeu a bênção de seu pai passando-se por esse mesmo irmão. E na época já existia a tal da fofoca, então é bem provável que essas histórias fossem conhecidas. Além disso, o próprio significado de seu nome indica sua personalidade: usurpador, enganador. Isso já é motivo mais que suficiente para avaliar com cuidado qualquer proposta vinda dele e de seus filhos.

Se, atualmente, uma empresa chamada “Trapaceiros” te fizer uma proposta, você confiaria sem muita cautela?

Mas existia um motivo ainda mais forte — e que, por si só, já deveria ter levado os homens de Siquém a estudar minuciosamente qualquer proposta — ou, quem sabe, a se prepararem para uma guerra, e não para uma celebração: o príncipe de Siquém havia estuprado a filha de Jacó, Diná.

Nessas circunstâncias, era esperada — e até aceitável — uma reação violenta por parte da família de Diná.

Após o estupro que cometeu, o príncipe de Siquém disse ter se apaixonado pela vítima e, por isso, quis se casar com ela. Acredito que isso seja realmente verdade, pois estar emocionalmente vulnerável faz com que as pessoas deixem de ser cautelosas e objetivas. Aliás, no mundo dos negócios, o fator emocional é elemento crucial. Muitos bons — e maus — negócios são feitos tendo como pano de fundo a paixão, a raiva, o orgulho, a ansiedade, a tristeza, entre outros estados mentais.

Ora, se o príncipe de Siquém havia estuprado a filha de um líder conhecido por suas trapaças, cujo nome significa “astuto”, foi muita ingenuidade aceitarem aquela proposta.

Aliás, não é sem motivo que o nome Hamor, que em hebraico é Chamôr, significa literalmente “jumento”. É isso mesmo: o animal que conhecemos como jumento, em hebraico, é chamôr.

Curioso, né?

Poderia o encontro entre o Astuto e o Jumento terminar de modo diferente?

Talvez, se o rei Salomão já tivesse escrito o provérbio “O ingênuo acredita em tudo o que dizem, mas o prudente examina bem seus passos” (Pv 14:15) — e eles tivessem seguido esse conselho —, não teriam caído na cilada preparada pelos filhos do “Astuto”.

Seja prudente em seus negócios, acordos, contratos, alianças, relações e tudo o mais. Avalie com cuidado e, se não possui a experiência ou o conhecimento necessário, peça — ou contrate — a ajuda de alguém que possa te orientar, especialmente quando quem está fazendo a proposta conhece bem os detalhes e você não. Afinal, ninguém quer ser lembrado como um “chamôr”.

Sobre o Autor

H. S. Lima

H. S. Lima é escritor, advogado e palestrante. Tem como propósito de vida compreender os princípios eternos contidos principalmente nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, chamados de Pentateuco ou Torá, identificar a compatibilidade com a mensagem de Jesus Cristo, para então ensinar como observá-los na vida pessoal e profissional.

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